quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Parto humanizado e domiciliar. Mas por quê?

Esse post não pretende informar sobre os motivos médicos que fazem com que o parto natural seja o mais interessante. Nem tenho gabarito para isso, é mais para explicar (e entender) os meus porquês. Se você procura informações científicas, veja os links no final do post.

Maternar sempre foi um sonho para mim, embora a maioria das pessoas a minha volta estranhem quando digo o quanto eu quis ser mãe. E o parto sempre foi uma parte importante do maternar, era o momento sagrado e mágico em que uma criança chega ao mundo. Era o ritual de passagem de filha para mãe, muito mais do que o sexo em si, o parto tornava a donzela em mulher... Afundar na dor, no instinto, encontrar nossas sombras mais profundas e então retornar, com uma criança nascida nos braços e renascida em mulher.

E eu sempre dei muito valor aos rituais de passagem, sempre senti uma pontada de decepção por não ter me preparado para a primeira menstruação. Por não existir mais a passagem dos segredos femininos de geração para geração, por eles estarem tão deturpados, tão neglicenciados. A maioria das mulheres nem se percebe mais da importância do sangue menstrual.

Desde pequena, lá pelos 11 anos, eu decidi que queria um parto na água (hoje já sei que não depende de uma decisão, mas do que meu corpo achar melhor na hora). Foi em um programa do Discovery, acho que o nome era História de um Bebê. Em um dos episódios apareceu um parto em uma banheira e aquilo era mágico, era um jeito maravilhoso de parir e de nascer. Mais tarde encontrei blogs e sites que apoiavam o parto natural, a amamentação prolongada... Coisas que iam de encontro ao que eu acreditava, fui vendo que não era a única a dar importância aos rituais de passagem, aos mistérios do corpo feminino. Encontrei mulheres que lutavam pelo seus direitos e pelos direitos de suas crias. Mulheres que lutavam para ter de volta o controle sobre seus corpos, aos seus segredos, tanto na hora do parto quanto na criação dos pequenos. Mulheres que sabiam de sua força...

Além do valor desses evento fisiológico e da influência deles na psique e espírito, tem também a importância que ele seja o mais natural possível, com o mínimo de intervenções e de drogas sintéticas., a não ser que sejam realmente necessárias para a sobrevivência e bem estar de mãe e filho 
Isso porque, o corpo humano, como o de todos os animais, foi feito para procriação da espécie, os hormônios são liberados para que isso ocorra e para que a mãe proteja a cria. A Natureza tem milhões de anos de experiência aprimorando o parto, e se estamos aqui hoje é porque funciona, porque mesmo que eu tenha nascido de cesárea, minha mãe, meu pai e todos os meus tios nasceram de parto natural, em casa, e nem todos tiveram parteira. Já a medicina tem quantos anos em intervenções e cesarianas?

Mesmo que não saibamos nenhuma história de problemas pelo excesso de cesariana (pelo menos, comprovadas cientificamente), não temos garantia nenhuma da segurança dela usada de forma indiscriminada, temos? O médico diz que é seguro hoje da mesma forma que achavam seguro assistir a testes de bomba atômica assim. (Tá, comparação um pouco exagerada, mas deu para entender como mudam a visão humana das coisas, né? O que hoje é dito seguro amanhã pode ser visto como absurdo)

Além do mais a dor é um aviso do corpo, é uma forma de comunicação que desaprendemos a entender. Estamos em uma sociedade em que isso é usual. É normal tomar um remédio qualquer para o mínimo de dor ou desconforto. Uma dorzinha de cabeça chata e lá vem o analgésico, não se pára para pensar no motivo da dor, não se trata a causa, se trata o efeito. E o que acontece? O corpo percebe que foi ignorado, não deram ouvidos para seu grito, e se a causa continua (trabalho demais, por exemplo) ele grita mais forte, a dor aumenta. Se toma uma dose maior de analgésico e o ciclo se repete.
E o mesmo acontece com as dores 'não-físicas', depressão? Anti-depressivo. Não consegue dormir? Calmante. E assim caminhamos, ignorando nosso corpo e seus avisos.

Por isso eu acho que é importante sim sentirmos a dor do parto, porque se ela faz parte do processo deve ter sua importância. Não que eu seja masoquista, ou que não esteja morrendo de medo da dor (e se eu não aguentar?), ou que não esteja torcendo para que eu esteja no time das mulheres que sente pouca ou nenhuma dor. Mas não quero que meu parto seja uma experiência pela metade, eu quero que ele seja completo, e se meu corpo diz que eu devo sentir dor por algum motivo, é porque eu preciso passar por essa dor, descobrir de onde ela vem e tratar sua causa. Causa essa que pode ser a posição, tensão, esforço... então, ao invés de ingerir drogas para cortar a dor, vou me focar em entender meu corpo para responder ao seu pedido: mudo de posição, tento relaxar, massagens para aliviar o músculo que está se esforçando.

Dor para mim não é sofrimento. Dor é só um aviso fisiológico, sofrimento é meu psicológico focando de forma errada na dor e se eu entendo o porquê e a importância da dor, já é meio caminho andado para aceitá-la e superá-la. Sei que um hospital não respeitaria essa minha opção, muito menos entenderia...

Da mesma forma que quero respeitar os avisos do meu corpo que vem em forma de dor, quero respeitar o meu tempo e o tempo do meu bebê. Não quero ter prazo para parir como se fosse um trabalho. Um hospital também não respeitaria isso.

Também não respeitaria o meu desejo de evitar intervenções desnecessária no meu filhote, ou o meu jeito de parir, fosse no silêncio ou fosse aos gritos.

Um hospital padrão e tradicional era a minha última opção por não respeitar meus desejos, por tirar de mim a chance de parir meu filho da forma como eu acho melhor, por tornar um ritual de passagem sagrado em um procedimento médico, mesmo que fosse parto pela via vaginal.
A primeira opção era uma casa de parto, mas não encontrei nenhuma na região. A segunda um hospital realmente humanizada, também não achei. Contudo, na busca pela casa de parto encontrei a possibilidade de um parto domiciliar. E lendo, conversando, pesquisando... essa opção foi se tornando cada vez mais real e de repente, se tornou a única em que cabia tudo que eu queria para um parto, a única que eu queria

E é assim que eu decidi ter meu filho, em casa, com acompanhamento da equipe do Bebedubem , de São José dos Campos.

Se eu tenho medo dessa escolha? Se eu tenho medo de algo dar errado? Tenho mais medos do que dedos na mão, mas quem não os tem?

PS: Um livro teve muita influência nesse desejo por um parto natural e acompanhado de outras mulheres, A Tenda Vermelha, de Anita Diamant. Mas isso fica para um outro post.

Onde encontrar informações sobre parto humanizado:


Sobre parto domiciliar:





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