quinta-feira, 17 de abril de 2014

Necessidades, desejos e conexão - a birra nossa de cada dia!

Esse post maravilhoso da Penelope com citações da Laura Gutman me transportou para outra dimensão. Nesse outra dimensão eu pude encarar minhas necessidades, aquelas que estão aqui escondidas no peito há tanto tempo que muita sujeira e poeira as encobriam.

E quais são essas necessidades? Cheguei a uma frase que, para mim, defini bem: ser olhada e ouvida, ou melhor, me sentir assim. Que para mim é sinônimo de ser amada.

Foi sendo mãe que entendi como se olha de verdade para uma pessoa. Foi com Benjamin que entendi como se ouve, como se enxerga um outro ser. Olhar é muito mais que pousar os olhos, ouvir é muito mais que deixar que o som adentre por nossos ouvidos.
Eu sei quando pouso meus olhos sobre ele e quando eu enxergo e ouço meu filho de verdade, mas não sei se consigo falar como isso acontece, porque não é uma coisa muito racional. É estar aberta com todo meu corpo, mente e espírito para ele. É ouvir o que ele fala sim, mas é também ler em seus olhos, em seus traços, em seu corpo o que ele quer me dizer de verdade. É sentir o que ele está sentindo. Além disso tudo, é também não julgar. É desligar meu filtro do julgamento e simplesmente deixar que a mensagem venha. Ligar a empatia e me conectar com esse serzinho maravilhoso que o Universo me confiou tão generosamente.

Eu sei a diferença entre pousar os olhos e enxergar pelas sensações do meu corpo e pelo fluxo da minha mente. Às vezes o olho brincando e penso em todas as milhares de coisas para fazer, é como estar em outra sintonia. Em outras, vejo a mesma cena e consigo estar inteira nesse olhar, observar cada movimento dele e entrar em sua sintonia. Conexão é a palavra.

Não sei como aprendi isso, mas sempre me disseram que sou boa ouvindo, então devo ter uma predisposição para isso. Mas depois de Benjamin fui aprendendo a fazer isso com outras pessoas. E é incrível o quanto se aprende com uma atitude tão simples. É como ler nas entrelinhas, como ver os bastidores de uma peça... é como ouvir além do que as palavras dizem.

Lembro de um momento antes de engravidar em que eu percebi o quanto as palavras podem ser vazias. Eu andava pela rua vendo as árvores e pensava como elas eram bonitas, que eu amava a natureza. As palavras vinham, mas eu não sentia o amor dentro de mim. Eu podia dizer "eu te amo" sem sentir isso. Pensava que não era possível que o amor ou qualquer outro sentimento fosse simplesmente esse conjunto de letras ou mesmo um pensamento, era preciso sentir. Benjamin nasceu e eu aprendi a sentir. Ou reaprendi. E agora eu posso dizer "te amo, filho" só por falar, mas também posso sentir isso no meu peito e entrar no fluxo desse sentimento.

Para mim, ver e ouvir são a mesma coisa. Posso ver e ouvir a parte racional, verbal, objetiva com meus olhos e ouvidos, ou posso me abrir completamente para um ser, situação e usar meus outros sentidos para realmente entrar no fluxo.

Fiz todo esse raciocínio doido para dizer que o post da Penelope que me fez pensar nas minhas necessidades primordiais e as trouxe a tona de uma vez me fez perceber em quantas vezes eu agi por essas necessidades para que as pessoas ao redor enxergassem além das minhas atitudes.

Ui, ficou complexo o negócio! Vamos 'objetivizar' a coisa usando os exemplos infantis que são tão mais fáceis de nos fazer enxergar:

- Ser visto e ouvido de verdade é uma necessidade básica humana (eu considero!)

- Benjamin tem um problema (pode ser sono, cansaço, fome etc). Eu não enxergo que ele tem um problema. Ele PRECISA ser visto, ele precisa que eu veja o seu problema (que ele mesmo não pode definir pela pouca idade) e o solucione.

- Talvez ele já tenha tentado formas sutis e eu não tenha visto. Como ele faz? FAZ ALGO QUE ME INCOMODE! Algo que ele sabe que vai me incomodar, algo que ele sabe que eu vou VER!


- Birras se encaixam totalmente nisso para mim! Além de nos incomodar elas são uma forma de os pequenos colocarem para fora o que ainda não conseguem expressar de outra forma.

- Ele quer me incomodar, mas não é simplesmente por incomodar. Ele precisa que eu me conecte com ele e veja além do incômodo, que eu encontre a origem dessa atitude.

- É como se a atitude dele (normalmente negativa, porque é isso que vai mexer comigo) fosse um pedido de ajuda. Um grito de socorro.

Ok, e como isso se aplica aos adultos?

Só posso falar por mim, mas minha necessidade é ser realmente ouvida e vista. Estou triste, chateada, irritada ou qualquer outra coisa... tenho uma atitude que sei (de forma normalmente inconsciente e que nem percebemos) que irá incomodar alguém. Esse é meu pedido deslocado de ajuda. Quero que, ao ser grossa (normalmente é isso que faço), a pessoa enxergue o que me fez ter essa atitude. Quero conexão. Sim, é uma birrinha adulta, porque de alguma forma não estou reconhecendo minhas necessidades e muito menos conseguindo expressá-la adequadamente.

Uau, que pensamento doido e confuso. Será que fará sentido para mais alguém?

Mas a questão que fica para mim é, se alguém me incomoda o quanto desse incômodo está em mim (porque encontrou eco no que eu penso sobre mim mesma) e o quanto é um pedido de ajuda?

Bora começar a olhar diferente para os mal humorados, para os irritantes, para os grossos (eu! rs), para os irônicos, os sarcásticos, os birrentos? E claro, para nossas crianças! Que necessidades têm? Que problemas as levaram a agir assim?